Biopesca


Captura de raias no litoral de SP

23/12/2021

Em novembro de 2021, o caso de uma criança que esbarrou em uma raia no mar de Ilha Comprida (SP) causou alerta porque a ocorrência foi confundida com um ataque de tubarão. Esse mal-entendido tem acontecido com alguma frequência e causado agitação em banhistas que, neste verão, lotam as praias e fazem filmagens para postagens em mídias sociais, acusando, de forma desavisada, a presença de tubarões na água.

O Instituto Biopesca recebeu algumas dessas filmagens e constatou que, de fato, se tratavam de raias e não de tubarões. “A ocorrência de raias, em particular das ticonhas (Rhinoptera bonasus), mais próximas da praia é completamente natural nesta época do ano”, esclarece o biólogo e especialista em raias e tubarões Otto Bismarck Fazzano Gadig, professor doutor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita (Unesp) e parceiro do Instituto Biopesca.

De acordo com ele, essa espécie é costeira e vive dentro da plataforma continental. No verão, ela se aproxima da praia em grandes cardumes para completar seu ciclo reprodutivo, uma vez que as águas estão mais quentes, o que favorece a aceleração do metabolismo para reprodução, entre outros fatores.

Como estão mais perto das praias, as raias são capturadas de forma acidental pela pesca de arrasto de praia, autorizadas por Lei desde que executada de acordo com regras, a exemplo da soltura de espécies que não são alvo da pescaria.  “Várias vezes, eu já auxiliei a soltura de grandes quantidades de raias capturadas dessa forma. O pescador autorizado não tem a intenção de capturá-las e nem interesse nisso”, observa Otto.

Em dezembro, o Instituto Biopesca registrou o encalhe de mais de 61 raias já mortas encalhadas em Praia Grande e Peruíbe. Os animais apresentavam marcas de rede, indicando terem sido capturadas pela pesca. No caso de Peruíbe, particularmente, as raias – 55, no total – foram ocultadas em trecho de vegetação, em área de restinga, junto com três tubarões-martelo neonatos e uma raia manta (mobula).

“Infelizmente, este tipo de ocorrência está relacionada às atividades de pessoas mal-intencionadas”, comenta o médico veterinário Rodrigo Valle, do Instituto Biopesca, reforçando a opinião do biólogo Otto Gadig. “Essas ocorrências têm alto impacto social e podem comprometer a atuação de pescadores que agem dentro da lei”, diz.

Uma terceira ocorrência foi registrada em 5 de janeiro, quando o Instituto Biopesca recolheu 35 raias já sem vida encalhadas na praia do Cibratel, em Itanhaém (SP, na foto). Apenas uma era da espécie raia-lixa (Dasiatys guttata) e todas as outras, ticonha. As carcaças foram recolhidas para análise necroscópica e as avaliações iniciais indicaram marcas de rede em algumas delas.

O Instituto Biopesca elaborou uma nota técnica a respeito do caso de Peruíbe e encaminhou às autoridades competentes a fim de colaborar com maiores esforços de fiscalização das atividades pesqueiras.

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