05/10/2020
Um grande desafio se apresenta à pesquisa: como resolver o progressivo aumento da população e a necessidade crescente por alimentos, ao mesmo tempo que mantém-se a biodiversidade? Essa foi uma das questões apresentadas pela bióloga Carolina Bertozzi, fundadora do Instituto Biopesca e professora da Unesp, em sua palestra realizada no evento on-line “Conhecendo o golfinho mais ameaçado do Brasil”.
O evento, uma iniciativa do Viva – Instituto Verde Azul, celebrou o Dia da Toninha, comemorado em 1º de outubro, e reuniu especialistas brasileiros de diferentes instituições do Brasil. A toninha (Pontoporia blainvillei) está ameaçada de desaparecer da natureza em algumas poucas décadas caso nada seja feito em favor de sua conservação. Pesquisas estimam que restem apenas 600 indivíduos em trechos de ocorrência desse golfinho, localizado entre o norte do Rio de Janeiro e parte do Espírito Santo. “No entanto, essas estimativas, além de antigas, estão subestimadas”, explicou Bertozzi durante o evento.
Uma das principais ameaças à toninha é a captura acidental pelas redes de pesca artesanal. Ao ficar presa porque não as enxerga, ela morre asfixiada. Outras pesquisas indicam que três mil toninhas morram por ano no Brasil, no Uruguai e na Argentina, os outros dois países onde elas ocorrem.
Em sua palestra, Bertozzi enfatizou o crescente aumento populacional e a decorrente impossibilidade de interromper a produção agrícola e pesqueira – que impactam as espécies animais e seus habitats, levando algumas à extinção. “Nós, como pesquisadores, temos o papel de descobrir maneiras de equacionar a manutenção da biodiversidade diante dessa realidade. Afinal, já sabemos que, em 2050, seremos 10 bilhões de humanos no planeta. Como resolver, então, a questão de alimento sem impactar as espécies animais e onde vivem?”.
Nesse sentido, alguns experimentos já vêm sendo realizados, pelo menos na área de produção pesqueira, como evidenciou a pesquisadora. “Testes com redes de pesca alternativas e também com a colocação de alarmes acústicos nesses petrechos estão sendo realizados”, contou. Essas iniciativas tentam impedir que espécies que não são o alvo da pescaria, como as toninhas, não fiquem presas.
Até que resultados eficazes sejam obtidos, Bertozzi faz algumas sugestões que o cidadão comum, enquanto consumidor, pode adotar. “O ideal é consumirmos peixes que não estejam sobreexplotados, ou seja, alvo de uma exploração excessiva e não sustentável”. Para tanto, indica guias de consumo sustentável facilmente acessados na Internet. Um deles é “Guia de Consumo Responsável de Pescador Brasil”, da WWF, e o “Do mar à mesa – Guia de Consumo Consciente de Pescador da Costa do Descobrimento”, do Projeto Coral Vivo.
Os links para acessá-los são:
https://promo.wwf.org.br/consumoconsciente?_ga=2.3802679.624799897.1601670051-1364769293.1590162419
https://coralvivo.org.br/arquivos/documentos/Guia_de_Consumo_de_Pescado.pdf
O evento pode ser conferido na íntegra no canal do Viva no Youtube: